Ao espreitar pelo judas da porta, viu que tinha sido a polícia a tocar à campainha. Apesar de estranhar abriu.
- Boa tarde, é o Senhor Martins?
- Sim, sou eu!
- A sua esposa é a Senhora Dora Duarte Martins?
- Sim, passasse alguma coisa? Aconteceu alguma coisa com a Dora?
A notícia da morte deixaram-no sem reacção. Os detalhes pouco importavam.
- A sua esposa... atropelada... fugiu. Lamentamos!
Finalmente pestanejou soltando as lágrimas que lhe vidravam os olhos.
Já sozinho, depois de todas as formalidades terminadas, sentou-se no sofá. Abriu a mão esquerda e olhou longamente para a aliança, podendo finalmente relembrá-la. Os olhos dela brilhantes sempre que dele se aproximava. A forma que tinha de trincar o lábio inferior quando se zangava com alguma coisa. A forma carinhosa que tinha de lhe acariciar a face antes de o beijar. As gargalhadas sonoras que ainda ecoavam na sala. O deslocar voluptuoso, pela casa, deixando um doce aroma por onde passa. As lágrimas que tão facilmente molhavam os seus lábios.
Ele enxugou as lágrimas, enfiou a aliança numa caixinha de madeira, que parecia ter sido feita para esse efeito, depois de a ter delicadamente beijado, e pousou-a na mesinha da sala.
Olhou em seu redor, fechou os olhos e inspirou lenta e longamente, sorriu e murmurou:
- É assim que te quero recordar!
. Martin Solveig - Rejectio...
. Gula!
. Magui
. Premiada
. Desafio!