Segunda-feira, 21 de Agosto de 2006

Morrer

Ao espreitar pelo judas da porta, viu que tinha sido a polícia a tocar à campainha. Apesar de estranhar abriu.

- Boa tarde, é o Senhor Martins?

- Sim, sou eu!

- A sua esposa é a Senhora Dora Duarte Martins?

- Sim, passasse alguma coisa? Aconteceu alguma coisa com a Dora?

A notícia da morte deixaram-no sem reacção. Os detalhes pouco importavam.

- A sua esposa... atropelada... fugiu. Lamentamos!

Finalmente pestanejou soltando as lágrimas que lhe vidravam os olhos.

 

Já sozinho, depois de todas as formalidades terminadas, sentou-se no sofá. Abriu a mão esquerda e olhou longamente para a aliança, podendo finalmente relembrá-la. Os olhos dela brilhantes sempre que dele se aproximava. A forma que tinha de trincar o lábio inferior quando se zangava com alguma coisa. A forma carinhosa que tinha de lhe acariciar a face antes de o beijar. As gargalhadas sonoras que ainda ecoavam na sala. O deslocar voluptuoso, pela casa, deixando um doce aroma por onde passa. As lágrimas que tão facilmente molhavam os seus lábios.

 

Ele enxugou as lágrimas, enfiou a aliança numa caixinha de madeira, que parecia ter sido feita para esse efeito, depois de a ter delicadamente beijado, e pousou-a na mesinha da sala.

Olhou em seu redor, fechou os olhos e inspirou lenta e longamente, sorriu e murmurou:

- É assim que te quero recordar!

 

hibiscusnatura às 15:31
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Sábado, 19 de Agosto de 2006

Vidas

Um fim de semana como tantos outros, dois casamentos, seis mortes, uma nascença!

Quatro famílias que se juntam para criarem duas novas famílias !

 

Um acidente mortal aqui, dois mortos! Outro acidente com alguns feridos graves e três mortos noutra cidade. Um jovem que regressa a casa depois de uma noite de diversão, um muro que entra pelo carro, um morto.

Total das perdas: seis pessoas!

 

Um grito, o choro de uma criança , rasga o silencio. A alegria de uma família que não pode ir ao casamento nem da prima nem do sobrinho. A mesma família que desconhece a morte da irmã da mulher que acabou de dar à luz uma linda menina. Essa mesma menina que se tornará mulher e porá fim aos seus dias num grito de solidão!

hibiscusnatura às 22:08
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Quarta-feira, 16 de Agosto de 2006

Tango

Fui arrastada para um bar enevoado. Só, alguns instantes depois, ouvi a música e  vislumbrei alguém num canto. Deixei-me levar pela música e a medida que olhava em meu redor as pessoas desapareciam. Apareceu uma mão estendida e convidativa, eu segui-a !

O meu corpo absorvia e transpirava a música que ecoava na minha cabeça. Usava uma roupa que não era minha, dançava com uma pessoa que não conhecia. Os meus pés entrelaçavam-se nos teus e as nossas ancas cúmplices tocavam-se e balançavam emanando uma sensualidade latina!

A música terminou e a multidão em meu redor voltou. Só quando abri os olho vi que tinha dançado contigo, os gestos eram os mesmos. Os teus braços enlaçavam o acordeão e acompanhavam cada sopro dele, como o tinhas feito com o meu corpo!

Durante a noite, as escassas horas que tive para me apaixonar, viajei por sitos encantados e dancei  os ritmos de cada país.

Ao acordar de manhã lembrei-me dessas viajem e desses ritmos:

- Um dia vou encontrar-te de novo e agradecer-te por me teres devolvido o sorriso em apenas algumas horas, por me teres proporcionado algumas magnificas viagens e teres roubado o meu folgo com ritmos que já tinha esquecido!

hibiscusnatura às 22:32
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Quarta-feira, 9 de Agosto de 2006

Roubada

Parei de respirar, parei de pensar, parei de sentir, parei de viver...

 

Apenas me recordo a dificuldade que senti em respirar tendo o corpo dele em cima do meu. A boca dele procurava os meus làbios e eu escondia-os... Mas ele bateu na minha cara! Ele ameaçou e ordenou...

Eu não podia fugir, afinal ele era mais pesado, mais forte que eu! Era um homem e eu apenas uma criança de 15 anos.

Recordo-me também do alívio quando o corpo dele deslizou para o lado e finalmente pude respirar .

A minha roupa, onde estava a minha roupa? Eu quero fugir, eu vou fugir...  sinto-o a mão dele crispada no meu braço e a puxar-me para traz, que mais quererà ele?

 

- Isto tem de ficar entre nós, tu sabes que foi só uma brincadeira!

 

Os dias seguintes vividos no medo, na solidão, no escuro, as marcas que deixou no meu corpo vão desaparecendo pouco a pouco. Mas as marcas que me deixou na alma, ainda hoje estão vivas. Aquela noite est à intacta na minha memória.

Fecho os olhos para beijar quem eu amo, mas é o rosto dele que aparece no escuro...

Tenho de matar aquela noite para sempre!

Abro a porta do móvel onde o meu pai expõe as armas, tiro uma, carrego-a de uma única bala que por v à rias vezes caiu das minhas mãos trementes !

Espero dentro do carro, com a arma no banco do passageiro, em frente  à casa onde desfruta da sua, fingida, vida feliz.

 

É tarde...

 

Hoje atrás destas grades apenas me lembro do alívio provocado por um ruidoso e certeiro PUM...

 

hibiscusnatura às 22:34
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