Quinta-feira, 16 de Agosto de 2007

Coração mecánico

Porquê, porquê eu?

 

Esta é sem dúvida a pergunta que todos já se colocaram pelo menos uma vez na vida e eu não sou excepção!

 

Há uns tempos atrás uns problemas de saúde com que nasci e que julgava já estarem curados voltaram a dar noticias. O meu coração decidiu fazer das dele e então de 10 anos de tranquilidade após a operação voltei aos hospitais.

Durante 4 anos andei a ter umas crises que me faziam desmaiar e ultimamente até provocavam umas paragens cardíacas , mas nada de grave, julgava eu, já que saia no mesmo dia! O meu cardiologista dizia que era normal já que o meu coração tinha sofrido algumas alterações com as duas operações a que o tinham sujeitado. Segundo ele uma pessoa "normal" também pode ter essas crises mas (tinha de haver um mas) nessas pessoas umas simples cirurgia resolve o assunto, infelizmente o meu coração não permite esse género de cirurgia...

Mas um dia, numa das minhas já repetitivas crises em que todos entravam em pânico excepto eu (sou muito controlada, e não me ia servir de nada enervar-me antes pelo contrário), não me deixaram voltar para casa, fiquei na unidade de cuidados intensivos de cardiologia (é sempre bom ter um pouco de atenção... lol ), durante a noite, segundo o que dizem os médicos, tive uma paragem de 8 segundo, o que eles consideram muito tempo (eu disse que não era muito tempo e eles obrigaram-me a contar até 8 devagarinho e a suster a respiração e tudo...), mas tudo estabilizou depois...

Fiquei deitada 15 dias numa cama pouco confortável com fios ligados por todo o lado, com potássio a correr pelas veias (ficar com potássio durante 15 dias queima até as veias mais resistentes...).

Durante esses quinze dias comecei a ouvir falar de pacemaker, de estimulador cardíaco , de pilha.

Nunca me tinham falado da hipótese de eu ter um pacemaker e de repente vejo-me a ler folhetos com informações com as precauções a ter (confesso que não consegui ler metade por causa das lágrimas). Acho que o mais difícil foi habituar-me a ideia que de sete em sete anos lá tinha eu de ser operada...

Mas depois de sair do hospital e já em casa, durante algum tempo acho que voltei a fase da adolescente revoltada com a vida.

Eu nunca dei muita importância aos meus problemas de coração, sabia que tinha de ter alguns cuidados e conhecia os meus limites, tirando isso e algumas cicatrizes...

Comecei a odiar toda a gente que podia fazer aquilo que eu não podia (nem dançar podia), ralhava com quem fumava (afinal eles tinham aquilo que eu não tinha e estavam a destrui-lo), andava constantemente de mau humor... Já nem me importava se alguém estivesse a sofrer mais do que eu... Tinha-me tornado numa pessoa fria, má e egoísta ...

Os medicamentos que geralmente controlam essas crises, em mim também não funcionavam, pois em vez de controlar o ritmo quase que me paravam o batimento cardíaco (não sei qual é a sensação pior, ter o coração a bater a 240 bpm ou a 40 bpm )

Depois de várias visitas e estadias no hospital, resolveram marcar o dia a tanto desejado, mas primeiro teria de fazer um ultimo exame (muito pouco agradável, diga-se de passagem, não é muito bom ter uma câmara a vasculhar nas nossas entranhas )...

Bem tanta coisa para finalmente uma cambada de médicos, e depois de me terem destruído psicologicamente, chegar ao quarto e me anunciar com a maior das calmas:

- Não te podemos colocar um pace mackeur , poder até podemos, mas seria uma operação demasiado perigosa.

(É sempre bom saber que já não temos concerto possível ... Afinal demorei tanto tempo a habituar-me a ideia de ter um coração mecânico e agora isto... Bem não sabia se devia rir ou chorar)

Mas para meu grande espanto deram-me um tratamento e que está a resultar, já lá vão oito meses e o coração tem-se portado lindamente e eu também (voltei para a dança, para a minha vidinha...).

Eu sei perfeitamente que o tratamento não vai ser eficaz até eu me cansar da vida, mas quem sabe nessa altura a ciência já evoluiu e então eles até consigam instalar lá o mecanismo sem muitos estragos.

 

Entretanto não quero pensar no assunto, quero apenas viver o mais normalmente possível e aproveitar ao máximo e cuidar de quem realmente precisa e chorar com a fome no mundo e a guerra e não porque um médico me diz que tem uma solução para resolver os meus problemas!

 

Fui ou não fui estúpida em me preocupar com uma solução que afinal me ia devolver a minha vida?

 

 

 

: arrependida
hibiscusnatura às 22:26
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